Casa de Jantar

Era uma casa muito engraçada, ali dentro o tempo parava

Em uma noite fresca de céu claro, fomos conhecer a casa de jantar. É uma casa portuguesa com certeza, localizada numa rua tranquila do bairro Belvedere em BH. À porta nos recebeu Maria Paula, a dona da casa. Uma lusitana de gestos gentis e olhos brilhantes que já descendo as escadas começou a nos contar suas histórias. Quantas histórias! A casa tem memórias plantadas em cada cantinho, tem cheiro de bolo de mãe, alegria de criança correndo e abraço apertado de saudade. As mesas primorosamente preparadas para nos receber, com elementos carregados de vida. A toalha bordada pela bisavó, a louça da mãe, o baú de sândalo que cruzou os mares da China.

Se estão bem, posso servir as entradas? Anunciou a querida anfitriã. Degustamos uma sorte de quitutes: alheira frita, compota de peras picantes, bombom de queijo canastra melado e tomilho, pastas de azeitonas com figo seco e nozes e pão caseiro. Comemos sob os olhares faceiros da portuguesinha que tal qual uma avó querida te alimenta com um prazer infinito, e claro, logo pergunta: queres mais? Posso trazer mais…

Na sequência um creme de grão de bico com linguiça portuguesa defumada (com a qual me presenteou mais tarde), aquecida na temperatura ideal, nem quente nem fria, para assim depreender todos os aromas e sabores. Trocas de olhares cúmplices de verdadeira comunhão afetiva.

Eis então a estrela da noite: bacalhau com natas, ora pois! Macio, cremoso. Gosto de cama da gente depois de uma longa viagem. E assim estávamos todos nos sentindo a esta hora; em casa. Uma casa de bem querer, uma comida de bem viver, uma alegria em dar e receber. E ainda tinha mais.

Veio a sobremesa que pensei seriamente em recusar depois dessa jornada rapa-tachos. Seria um erro rude. Um panna cotta de frutas amarelas, raspinhas de laranja, cardamomo e pimenta rosa. Inexplicável composição de cheiros, texturas e sabores. Quisera o céu ter esse gosto, senhor! Satisfeitos em todos os sentidos e para além deles, fomos tomados por uma imensa gratidão de termos sido acolhidos, mimados e enlaçados sobremaneira. A casa é um lar, e o jantar só o pretexto pra gente se abastecer de amor. Obrigada Paula e Joana, trago vocês no coração.