Restaurante Pasta LAB
Saracoteando no Instagram dei de cara com uma imagem perfeita de macarrão ao vôngole e isso é um gatilho sério pra mim, vira ideia fixa do tipo pagode ruim que gruda na mente do sujeito, cujo refrão não vai embora nem com poder de reza.
Fui dissecar o perfil: Pasta Lab – restaurante italiano. De pronto tasquei a pergunta: oi, tudo bem? Esse prato tá disponível pro almoço de amanhã? Minha apreensão era motivada. Vôngole não sei por qual motivo, não é ingrediente dos mais queridinhos por aqui. Já é difícil encontrar o prato clássico nos restaurantes de BH, e se tornou um entrave ainda maior pós pandemia, que restringiu a oferta de produtos assim frescos e delicados.
Me responderam que deixariam reservado a “minha porção” de maneira que desde então me coloquei em estado de frenesi. Sabe aquela criança insuportável que pergunta no carro minuto a minuto da viagem “se tá chegando”? Eu todinha.
O restaurante é um espaço muito charmoso e pequenininho ali na meiúca da Savassi, na Fernandes Tourinho. O Chef Simone Pietro é aquele italiano que habita o imaginário de todo mundo: falante, intenso e abençoado pela herança culinária.
Comecei pelas ostras frescas porque não costumo perder a oportunidade; sim, outra tara particular. Carnudas, fresquinhas e coroadas por um sal defumado que deu aquele danado do “up” que faz a gente lembrar como o mundo é bão, sebastião.
Pedimos uma burrata marota sem estarmos preparados pro que viria. Lá do balcão, onde também é a cozinha, Simone perguntou: gostam de gorgonzola dolce? Respondi que sim por polidez, mas pensando que tipo de gente que não gosta?
Aí veio a mãe de todas as burratas: cremosa, com o toque do gorgonzola, abraçada num pesto fresco e bonita como um jardim. Comemos entre grunidos e resolvemos pedir um vinho porque deu vontade de celebrar.
Simone anunciou que tinha trufas, o que pôs fim ao dilema do marido entre o carbonara perfeito (depois daquela burrata, meus amigos, já sabíamos que tínhamos acertado a boa) ou uma massa com botarga curada por eles.
Trufa é uma daquela coisa que acabam com argumentos, tipo beijo melado de filho. (CONTINUA NOS COMENTÁRIOS)
E aí Simone foi além e sugeriu trocar a massa por um gnocchi que tinha acabado de fazer.
O que se seguiu foi da ordem da epifania. A minha massa aplacou todos os anseios, feito banho de cachoeira. Mas o gnocchi… mas o gnochi…. pausa dramática.
Eu não sou lá uma pessoa muito “nhoqueira”, não é uma massa que peço porque não vejo graça. Não via. Provando o prato do boy rolou uma sinestesia e imediatamente entendi aquele lance que todo mundo diz: que tem que colocar pouca farinha pro gnocchi ficar leve. Não era leve, era feito de sonho.
Sei, esse relato já tá quase uma ópera no quesito arrebatamento. Mas foi o que rolou no almoço de hoje. A sobremesa prefiro não comentar, com medo de ser tomada por mentirosa ou afetada. Aliás, afetada mesmo foi como terminei a refeição. Grata e eufórica daquilo que a boa comida é capaz de alcançar e provocar na gente. Bravo!!!
Saudades de ver suas analises tão bem feitas.