O Restaurante WEAK anda destratando as visitas
O RESTAURANTE WEAK ANDA DESTRATANDO AS VISITAS
Não, não se trata de um erro de digitação ou um lapso rude que o meu Inglês de pronúncia albanesa cometeu. O Restaurante Week se transformou em Restaurante Weak. Afirmo e desenho como poderão verificar na sequência.
Fraco, vamos combinar, é o jeito polido de se dizer quando algo está uma bosta. “Você assistiu àquele (essa crase aqui tem razões estéticas porque ninguém perguntando prosaicamente irá se lembrar da transitividade do verbo) novo filme com o George Clooney”? “Assisti. Achei meio fraco”. Percebe? Jeito delicado de dizer: “Achei uma bosta”. E tão bosta que nem o Ney (se aquele pedaço tivesse nascido no Brasil teria o apelido de Ney porque a gente tem talento pra fuder com tudo) conseguiu salvar o filme é porque é um filme bostão mesmo. Então, além de ter achado que o trocadilho ficou bacana (cada um tem suas taras, respeite a minha) eu não iria escrever que o Restaurante Week virou Restaurante Bosta. Até porque bosta e comida não se misturam apesar de terem o mesmo íntimo, são inexoravelmente separadas pelo fator tempo.
O Restaurante Week marca presença em BH há sete anos, se não me engano. O evento que tem a proposta de democratizar o acesso aos principais restaurantes através de um menu especialmente preparado e vendido a preços convidativos; está definhando. De atrativo restaram só os preços. Ano após ano, só piora. E quando você pensa que já viu de tudo, como costuma dizer um amigo querido, você percebe que o inferno tem subsolo.
Pequenas amostras de práticas que eu vi acontecerem, meninos eu vi! Os registros foram feitos no tempo em que eu ainda insistia em dar credibilidade ao festival. Juro que fui muito persistente, vesti a camisa e posei para foto de cliente do mês em prol do evento. Atualmente o que ocorre é que eu marco o período da
realização do Week na minha folhinha (que dependendo do humor parece durar semanas) com intuito de extirpar os restaurantes participantes do meu cardápio de opções. Durante esse período fico de resguardo (ia usar luto mas achei um pouco forte). Vamos aos fatos.
Já vi restaurante reservar espaço “especial” #SQN para os convivas que foram participar do festival de horrores gastronomia. Adaptaram uma espécie de “puxadim, malarumadim” para separar a pipoca do abadá. Dava dó de ver, porque mesmo estando no camarote nessa ocasião, nunca mais voltei nesse restaurante por conta do impacto oriundo de tal cena. Até a louça e paramentações eram “especiais”, acredita?
Tem casa que trabalha com reservas durante o período do Week, só para a turma que investe no cardápio regular. Perguntam sem piedade: “é normal ou Restaurante Week? Desculpe senhor, Week é por ordem de chegada”. Vai boiada! Sabe o esquema do médico que não tem vaga para atender pela Unimed, mas se oferece para ir até a sua casa se a consulta for particular? Sempre achei uma prática pra lá de curiosa.
Também tem a eficaz malandragem de não entregar o cardápiozinho, impresso para a ocasião ao desavisado que chega. Vai que ele não tá sabendo, né? Entrega-se o cardápio da casa, no mais legítimo “vai que cola”. Quando aquele cliente infeliz resolve pedir cardápiozinho maldito, o garçom vai buscar, mas isso envolve uma técnica elaborada. Ele demora um pouco porque está ensaiando o que aprendeu no curso pré-evento. Então amigo, ele surge com uma carranca tão sinistra, mas tão sinistra, que é capaz de meter medo em muito sujeito omi. Além da expressão facial existem outras artimanhas, de caráter subliminar, como a de te tratar como uma ameba leprosa. Esse combo te derrota, te faz sentir um bosta. Desculpa, mas aqui não dá para dourar a pílula. Quando a gente se sente um bosta a gente não faz a egípcia
e finge que tá “merdinha”, a gente se sente um bosta com toda a robustidão do termo (ops, I did again!).
Jogo sujo é o truque do sistema de cotas. Já vi dizer que o menu do Week estava encerrado na entrevista inicial mesmo o candidato tendo se declarado afrodescendente com cruzamento índio, egresso do sistema educacional público, deficiente auditivo e manco da perna esquerda. Nada o fará entrar, não tem conversa, o portão está cerrado. Enquanto isso na sala da injustiça o homem branco sempre no comando portando o cardápio “normal” é servido como rei. Alerta para não se criar nesse trecho mimimi relacionado a preconceito. Trata-se só, e somente só de uma figura de linguagem, antítese, para reforçar a oposição Week x Menu habitual, tamo combinado parte chata que habita o mundo travestida de assombração? Voltemos a programação normal.
Um dos poucos restaurantes que eu garrei ódia (porque ódio tem que ser substantivo feminino quando é assim, muito intenso. Basta imaginar uma mulher irada que você entende a necessidade de mudança de gênero) e que adentrei o salão, desavisada do período da pororoca e subsequente suspensão da pesca (forcei a amizade aqui?) e, por infortúnio fui pedir o cardápiozinho cujo o menuzim era:
Entradas: Canjiquinha com Ragu de linguiça OU Salada Verão ao molho cítrico. Principais: Gnocchi ao sugo e manjericão OU Filet ao molho rôti e purê de Baroa. Para a sobremesa eu fiz a Kátia cega e não registrei, mas devia ser algo como guaraná, suco de caju e goiabada.
Eu estava em uma mesa de visão privilegiada, no fundo do salão. Se eu, que estava só vendo não fiquei nada satisfeita imagina as cobaias? É o tipo de cardápio que nem escrito em francês e com olho azul parece sedutor. Com relação à aparência não preciso
dizer, né? Já discutimos isso no início do texto, me poupem de ser repetitiva. E para Je que suis macaca idosa (porque velho também não é polido) tem uns truques que os restaurantes safadinhos como esse praticam. A titia aqui vai revelar hoje pra vocês, prestenção aí, turma do fundão! Avaliaremos de acordo com a clássica escala BBB (bom, bonito e barato) e, com um extra para F de molezinha:
1. Canjiquinha. Prepara-se um panelão, se faltar põe água que incha, rende. Bom e barato e F de molezinha. O bonito fica devendo.
2. Ragu. Qualquer carne cozida despedaçada que você provavelmente não identificará de que animal veio (podendo ser de vários, inclusive) jogada por cima de algo que precisa ser coberto porque desnudo não desce. 2B (não é o lápis, menino!) porque também peca no item formosura; plus F.
3. Gnocchi. Esse é triplo B. E costuma ser de farinha ao invés de batata pra render e garantir o B de bonito e o F de molezinha!
4. Molho Rôti nesses lugares sapequinhas, é a junção do fundinho da panela pela qual a carne passou com uma caralhada (às vezes a grosseria se faz necessária, como neste caso em que existe o imperioso de criar impacto) de manteiga. Esse ganha um B ++ no quesito bom porque manteiga é irmã do bacon e se ele é vida, ela é magia. Ou então qualquer molho escuro de pozinho a la pacotim de tempero do Miojo. Devo continuar ou já parti muitos coraçõezinhos até o presente momento? Só mais um porque esse não pode ficar de fora, juro que paro depois.
5. Purê de Baroa. Ou “purezinho” de Baroa para os íntimos. Está melhor ranqueado, segundo dados do Instituto Vox Populi, no quesito popularidade do que a Dengue, Chicungunha e
Zica. Somadas! Purê de Baroa – que em hipótese alguma pode ser chamado de purê de mandioquinha, batata Baroa (pirou em fazer alusão à prima pobre?) e treva eterna para quem disser cenourinha amarela – é top das galáxias, darling! Outro dado importante diz que se somarmos todos os nascimentos de Enzos e Valentinas de 2017 não chegamos nem perto da notoriedade dessa papinha luxo. Tá bom, parei. Não vou ser um veículo de desilusão. Eu sou da galera que manda mensagem surpresa em carro de som com a “nossa” música. Não mudarei de time (veículo, carro… vai dando corda).
Será que deu para ilustrar um pouco do que tem acontecido durante a realização do Restaurante Week? Se quisermos eleger uma imagem representativa fechemos nossos olhos e imaginemos muitas bruxas soltas. Então, é dado um sinal inaudível ao ouvido humano e de repente todas elas se reúnem e começam a dançar ao som de Despacito (esse sim, em uma profusão de decibéis). Copiou?
O conceito do evento é excelente e acredito que tentaram, de fato, serem fiéis à essência quando na realização das primeiras edições. Apresentar seu restaurante àqueles que não são seu público alvo em teoria, democratizar a cozinha, promover experiências, ousar… mais aí veio o capeta e ploft! Levou mais essas intenções para a cabaninha dele. Virou uma briga de foice entre o restaurante e o cliente do cardapiozinho. Um jogo de muitos erros e extremo mau gosto.
De tudo só nos resta uma questão: Por que meu Deus, porque? A participação é compulsória? Não, que eu saiba. Não quer ficar fora da “thurma” dos considerados restaurantes bacanudos? Talvez. O que não faz sentido é aderir a um festival cuja sacada é apresentar sua casa a não-clientes habitués e daí você faz “um feio” desses? Se fosse na minha casa o chinelo comia solto porque
se eu destratasse a visita, o beliscão escamoteado e a frase dita entredentes “você vai ver o que te espera quando o Sr. Visita for embora” eram o prenúncio da segunda certeza que eu passei a ter. Quem diz que a gente só tem uma certeza na vida não conheceu o chinelo da minha mãe. Eu não sei de muita coisa e concordo com menos ainda, mas tem um ditado sobre uma tal primeira impressão que eu acho muito válido. Se eu recebo visitas pela primeira vez, o mínimo que farei é deixar a casa arrumadinha e tratar as pessoas com consideração, certo?
Então meus caros restaurantes participantes dessa campanha weak e todos os homens de boa vontade… bora tomar um Biotômico Fontoura e firmar os casco? Vamos fazer um evento sacudido pra dar brilho nos olhos do povo? Deixa essa fraqueza só pras Angolas que são entendidas do assunto. A gente não quer só comida, a gente quer