Olha o Guaja aí gente!!!
No ano de 2017 o termo “fake news” (notícia falsa) foi eleito a palavra do ano com direito a virar verbete de dicionário. Foi aplicado e alastrado mais que a peste negra e teve efeitos análogos. Aquele senhor alaranjado de topete de calopsita surtada foi um consumidor voraz e estrategista dessa expressão. Banqueteou-se dela a fim de vencer a eleição em uma nação que similarmente à nossa, vem se entregando a princípios extremistas e intolerantes diante de um quadro de desesperança corrosiva.
O outro lado da moeda é que o termo “compartilhamento” (sharing) também se mostrou cada vez mais presente e veio tomando corpo através de redes fundamentais para salvaguardar a continuidade da nossa existência por aqui. Muito dramático? Não, acredite. O limite de uso, abuso e estupro do nosso planeta já venceu, caducou mesmo; e já estamos nos minutos finais da prorrogação. E se você pensa que não tem nada a ver com isso te asseguro que você não entendeu nada. Cuidado que em alguns casos a ignorância (ativa e passiva) pode ser fatal.
Apesar do lado negro da força e das atrocidades de que somos capazes de fazer, existe uma sementinha em nós, em quem já foi criança um dia, que diz que o “bem vence o mal e afasta o temporal”. E é exatamente aí que entra o GUAJA. Um lugar, um conceito, uma corrente, uma confluência, um laço, um passo… vários. Porque por lá ninguém caminha sozinho e se queres chegar longe amigo, te aconselho que faça essa caminhada acompanhado!
Eu e uma amiga fomos fazer um esquenta (ou “esfria” melhor definiria porque a temperatura já era altíssima) para o show da sua majestade, o todo bom, Chico Buarque de Holanda. Fiz um check-in simpático e rápido que não tinha nenhuma intenção de me tratar como um mailing ao invés de pessoa e então recebi meu passaporte de entrada para esse mundo. A casa (arquitetonicamente esplendorosa) tinha aberto às 18h, cheguei meia hora depois e já estava lotada. Nos espaços divididos, mas conectados, reservados mas especulares aconteciam palestras, apresentações, confraternizações. Logo na entrada uma mulher, com a cabeça e corpo cobertos vestida conforme as muçulmanas, falava para uma pequena plateia apontando para uma espécie de planta baixa projetada no quadro. Pensei, cool!
E essa sensação de descolado, inusitado e incomum foi se confirmado em todos os lugares nos quais os meus olhares pousavam. Eram vitrines de pessoas! Pessoas que despertavam um interesse imediato e magnetizante. Por que até onde eu sei, gente gosta é de gente e a gente só se faz gente no contato com outra gente. Apesar disso, às vezes, parecer cair em desuso e vez por outra seja necessário tomar uma certa distância de segurança.
E assim eu fui desvendando o GUAJA e sendo fisgada por ele. Um ambiente cuja concepção primária é unir pessoas, ideias, propostas e através desse compartilhamento de espaço e experiências, buscar transformar (pelo menos o nosso entorno) o mundo em um lugar muito mais legal e viável. Fui logo pensando se o Cérebro (aquele ratinho sagaz que dividia suas desventuras com o comparsa abestalhado Pinky na tentativa de dominar o mundo) tivesse tido essa iniciativa, sua ambição haveria de ter logrado êxito.
Lá no GUAJA você se sente realmente em outro planeta e sabe qual é a mágica disso? Não, não colocam “boa noite cinderela” no seu drink (convidativíssimos e com um divertido tempero feminista, diga-se de passagem) mas o feitiço se dá através da união e compartilhamento de DIVERSIDADES. A gente está tão acostumado a medir, parametrizar, classificar e enformar tudo que vamos perdendo o paladar e com isso a capacidade de sentir os diferentes sabores da vida. E tudo, coisas e pessoas, passam a serem vistos através do vidro da sauna, sem a definição e a vivacidade precisas. Lá no GUAJA tudo pulsa. Os sorrisos são mais sorrisos, os abraços mais apertados e o brilho nos olhos não foi gerado pelo efeito do app de edição de fotos.
E eu já que estava satisfeita só de ficar ali, ob-ob obeservando estrelas, quando depois de duas Heinekens geladas e servidas para tomar no bico (lembrando de como é bom sugar a vida no guti guti) chegaram os nossos sanduíches. Todos com nomes de edifícios icônicos de Belo Horizonte, aquela obra se tratava de uma construção de responsa. Edificante em/para todos os sentidos.
Fui apresentada ou IBATÉ30. Pão de brioche com gergelim (sovados por mãozinhas de anjos barrocos), blend de carnes (úmidas, no ponto mais que perfeito; ouvem-se harpas) queijo minas (uma das melhores coisas que temos na existência humana; obrigada Jesus por me desembarcar por aqui), tomate grelhado com ervas, crisp de ora-pro-nóbis (outra cosa nostra que me fez descobrir que não faz uma parceria de sucesso apenas com o franguinho refogado) e ketchup de goiabada (tks again Jejé), R$32. Minha amiga ascendeu ao SULAMÉRICA (vegano). Pão de figo, (como se faz isso, minha gente?) hambúrguer de grão de bico (nossos hormônios femininos agradecem) e espinafre, guacamole (Dios proteja la producción mundial de avocado, amém!), alface roxa e crisp de manjericão, R$31.
Era sim um prelúdio de uma noite feliz. Devidamente batizada e iniciada no estilo GUAJA de ser, me nivelei aos outros convivas paradoxalmente diferentes e análogos. Entrei para o clube.
E assim, tomado esse banho de pertencimento e tendo finalizado com borrifadas de “interessância” me refiz; refrescada, leve e toda perfumosa. Aromatizada de gente. Segui pro meu encontro com Chico, a mais feliz das criaturas, confiante de que através dessa corrente poderosa, o mundo seja mais factível. Eu estava absolutamente pronta pra mergulhar naquele par de olhos tímidos e transparentes e viver toda a poesia que há na vida.